Pela primeira vez na história deste país, o consumo de cervejas sem álcool cresce, bastante. Nos primeiros quinze dias de julho, após a entrada em vigor da lei seca, indústria e varejo já sentem uma alta de 20% nas vendas em volume para o produto, que em 15 anos de mercado nunca teve evolução assim, na casa dos dois dígitos.
Tradicionalmente, a cerveja sem álcool sempre foi desprezada por ter um consumo "irrisório", como dizem os donos de bares. É verdade: em comparação ao mercado total de cervejas, as sem álcool têm apenas 0,75% das vendas. E nunca passaram disso.
Mas, segundo o cervejeiro Carlos Hauser, especialista na bebida, que já trabalhou em fábricas na Alemanha, faltava no Brasil o ingrediente básico para o produto deslanchar: o respeito à lei seca. "Na Europa, a cerveja sem álcool existe para quem bebe e dirige. É um produto totalmente ligado à lei. Aqui, existia a bebida, mas não a ocasião", afirma ele, que confia no crescimento duradouro do consumo responsável.
E não foi preciso esperar muito para que o mercado reagisse ao novo ambiente. "Nos primeiros 15 dias do mês, já tivemos um aumento de até 30% nas vendas da Liber, nossa marca totalmente sem álcool, em relação a junho e também ao mesmo período de 2007", diz Ariel Grunkraut, gerente de marketing do segmento premium da AmBev, divisão na qual se encaixam as marcas Liber e Kronenbier. Essa última, que tem até 0,5% de teor alcoólico em volume, teve crescimento de 15% no ano e 10% no mês (primeira quinzena).
"Foi uma agradável surpresa", diz o executivo, que agora aposta numa potencial elevação desse nicho, já que até mesmo as marcas com algum teor alcoólico não são suficientes para dar o sinal de alerta na hora do bafômetro. "Testamos várias marcas de bafômetro com consumidores que beberam a cerveja por até três horas seguidas", diz ele.
Com o crescimento desse consumo, a variedade de cervejas sem álcool deve aumentar e sua qualidade também, segundo prevê Hauser. "Como há em outros países, podemos até ter cervejas sem álcool aromatizadas com limão e outras frutas", afirma. A propaganda dentro desse segmento também deve aumentar. Liber e Kronenbier, por exemplo, nunca foram estrelas de comercial de televisão, mesmo tendo juntas 60% das vendas do setor. Agora, a AmBev já prepara um plano promocional que poderá incluir a TV.
Até o varejo já está pensando em promoções. O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, vai aumentar a visibilidade das loiras sem álcool nas prateleiras da rede. "As vendas cresceram 20%. Não vejo a que atribuir esse fenômeno se não à lei seca", diz Fábio Rodrigues, gerente nacional de compras da bebida para as redes do grupo em todo Brasil.
"O consumidor que escolhe cerveja sem álcool é aquele que vai com os amigos para o 'happy hour' e dirige depois. Para não se sentir diferente, ele bebe a sem álcool", diz o consultor Adalberto Viviani. Cassio Piccolo, dono do bar Frangó, em São Paulo, concorda. "Muitos clientes já me pediram esse tipo de cerveja", afirma ele, que trabalha com quase 200 tipos da bebida, dentre elas as sem álcool.
Outra tendência prevista em função da lei seca também já começa a ser sentida: o aumento do consumo doméstico (hoje com 20% das vendas totais). "Já houve uma procura por cervejas, em geral 15% maior, nessas duas primeiras semanas do mês em relação há 12 meses atrás", diz Rodrigues, se referindo ao consumidor que compra no supermercado para beber em casa. Essa alta, diz, é atípica, já que devido ao inverno mais frio este ano, era esperada queda. O mesmo acontece na rede Econ. "Ainda não mensuramos o aumento, mas estamos nos preparando para vender bem mais", afirma o seu presidente Emílio Bueno.
Veículo de Publicação : Jornal Valor Econômico
Data : 18-07-08
Marcia Tuna - Jornalista FNHRBS
55-21-25582630 / 55-21-98711039 / Fax - 21-22855749
jornalismo@fnhrbs.com.br / jornalismoturismo@gmail.com
skype : jornalismo.fnhrbs
Tradicionalmente, a cerveja sem álcool sempre foi desprezada por ter um consumo "irrisório", como dizem os donos de bares. É verdade: em comparação ao mercado total de cervejas, as sem álcool têm apenas 0,75% das vendas. E nunca passaram disso.
Mas, segundo o cervejeiro Carlos Hauser, especialista na bebida, que já trabalhou em fábricas na Alemanha, faltava no Brasil o ingrediente básico para o produto deslanchar: o respeito à lei seca. "Na Europa, a cerveja sem álcool existe para quem bebe e dirige. É um produto totalmente ligado à lei. Aqui, existia a bebida, mas não a ocasião", afirma ele, que confia no crescimento duradouro do consumo responsável.
E não foi preciso esperar muito para que o mercado reagisse ao novo ambiente. "Nos primeiros 15 dias do mês, já tivemos um aumento de até 30% nas vendas da Liber, nossa marca totalmente sem álcool, em relação a junho e também ao mesmo período de 2007", diz Ariel Grunkraut, gerente de marketing do segmento premium da AmBev, divisão na qual se encaixam as marcas Liber e Kronenbier. Essa última, que tem até 0,5% de teor alcoólico em volume, teve crescimento de 15% no ano e 10% no mês (primeira quinzena).
"Foi uma agradável surpresa", diz o executivo, que agora aposta numa potencial elevação desse nicho, já que até mesmo as marcas com algum teor alcoólico não são suficientes para dar o sinal de alerta na hora do bafômetro. "Testamos várias marcas de bafômetro com consumidores que beberam a cerveja por até três horas seguidas", diz ele.
Com o crescimento desse consumo, a variedade de cervejas sem álcool deve aumentar e sua qualidade também, segundo prevê Hauser. "Como há em outros países, podemos até ter cervejas sem álcool aromatizadas com limão e outras frutas", afirma. A propaganda dentro desse segmento também deve aumentar. Liber e Kronenbier, por exemplo, nunca foram estrelas de comercial de televisão, mesmo tendo juntas 60% das vendas do setor. Agora, a AmBev já prepara um plano promocional que poderá incluir a TV.
Até o varejo já está pensando em promoções. O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, vai aumentar a visibilidade das loiras sem álcool nas prateleiras da rede. "As vendas cresceram 20%. Não vejo a que atribuir esse fenômeno se não à lei seca", diz Fábio Rodrigues, gerente nacional de compras da bebida para as redes do grupo em todo Brasil.
"O consumidor que escolhe cerveja sem álcool é aquele que vai com os amigos para o 'happy hour' e dirige depois. Para não se sentir diferente, ele bebe a sem álcool", diz o consultor Adalberto Viviani. Cassio Piccolo, dono do bar Frangó, em São Paulo, concorda. "Muitos clientes já me pediram esse tipo de cerveja", afirma ele, que trabalha com quase 200 tipos da bebida, dentre elas as sem álcool.
Outra tendência prevista em função da lei seca também já começa a ser sentida: o aumento do consumo doméstico (hoje com 20% das vendas totais). "Já houve uma procura por cervejas, em geral 15% maior, nessas duas primeiras semanas do mês em relação há 12 meses atrás", diz Rodrigues, se referindo ao consumidor que compra no supermercado para beber em casa. Essa alta, diz, é atípica, já que devido ao inverno mais frio este ano, era esperada queda. O mesmo acontece na rede Econ. "Ainda não mensuramos o aumento, mas estamos nos preparando para vender bem mais", afirma o seu presidente Emílio Bueno.
Veículo de Publicação : Jornal Valor Econômico
Data : 18-07-08
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