quarta-feira, 23 de julho de 2008

Vinícolas gaúchas sofrem conseqüências da lei seca


A lei de tolerância zero para consumo de álcool está modificando o comportamento dos consumidores. Depois de um mês em vigor, reduziu o número de pessoas que se arriscam a consumir álcool e pegar o volante. E esta mudança de comportamento está prejudicando as vendas das vinícolas gaúchas. Além de já enfrentar dificuldades com a importação e a competição com produtos falsificados, os vitivinicultores ainda têm pela frente a queda na comercialização por conta do rigor na aplicação da nova legislação.
Em Porto Alegre, a mais recente pesquisa realizada pelo Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre (Sindpoa) mediu a repercussão da lei entre os dias 10 e 12 deste mês junto a 53 estabelecimentos divididos entre restaurantes e casas ou bares noturnos. A queda no consumo de bebidas alcoólicas nos restaurantes atingiu 36,4%. Somente com a venda de vinhos, o presidente do Sindpoa, Daniel Antoniolli, garante que a retração foi de 40%, justamente no período do ano em que aumenta o consumo da bebida em razão das temperaturas mais baixas. "Além da lei, o veranico na semana passada também influenciou a retração", justifica Antoniolli. De acordo com ele, a situação do setor está muito complicada e, caso não haja uma mudança na legislação, o consumo de vinho e outras bebidas alcoólicas não deverá voltar ao nível anterior. "Somos favoráveis à lei, mas contra esta restrição total no consumo de álcool", acrescenta o dirigente.

A Boscato Indústria Vinícola, de Nova Pádua, não tem números precisos do recuo em julho, mas o proprietário e enólogo, Clóvis Boscato, estima que a comercialização de vinhos finos diminuiu 90% este mês em comparação ao mesmo período de junho. "Na semana passada não realizamos uma única venda sequer", declara Boscato. A vinícola produz apenas vinhos finos e atende a restaurantes e estabelecimentos especializados no Rio Grande do Sul. Ele comenta que antes da aplicação da lei, alguns restaurantes de Caxias do Sul, que adquirem produtos da Boscato, serviam taças de vinho aos clientes como acompanhamento nas refeições. "De cada 200 pratos servidos, eram consumidas 100 taças de vinho. Agora o consumo não chega a 10 taças. Tenho restaurantes como clientes que antes adquiriam cinco caixas por mês, mas foram obrigados a interromper as compras pela queda brusca no consumo", alerta o proprietário.

A Vinícola Garibaldi, sediada em Garibaldi, já verificou uma queda entre 10% e 15% nas vendas deste mês em relação ao mesmo intervalo de junho devido à legislação e às temperaturas elevadas registradas na semana passada no Estado. De acordo com o gerente comercial na Região Sul, Vanderlei Pramio, foram comercializadas entre 5 e 7 mil caixas de vinho a menos até o dia 18 deste mês. A Garibaldi produziu 6,9 milhões de litros em 2007 entre vinho comum e fino, vinífera e filtrado doce. Ele diz que uma das saídas encontradas pela vinícola para superar a queda nas vendas é aguardar uma definição mais clara da lei e promover outros produtos, como o suco de uva. "Estamos prevendo uma venda 40% superior de suco este ano em relação ao ano passado", comenta Pramio. A produção de suco da Garibaldi em 2007 atingiu 1 milhão de litros. Segundo ele, a vinícola só não aumenta ainda mais a produção porque a capacidade de estocagem é de 1,6 milhão de litros.

Aurora prioriza vendas para a rede de varejo


A Vinícola Aurora, que prioriza as vendas de vinhos para supermercados, ainda não tem números precisos do desempenho neste mês. Conforme o diretor comercial da vinícola, Alem Guerra, ainda não foi verificado recuo nas vendas porque os supermercados costumam fazer estoques. "Só teremos números mais concretos daqui a duas semanas", esclarece Guerra. Ele estima que neste primeiro momento haverá um recuo natural no consumo, mas que depois tende a se estabilizar. A Aurora tem sede em Bento Gonçalves e conta com mais de 1,1 mil famílias associadas responsáveis pela produção média de 50 milhões de quilos de uvas que resultam em aproximadamente 38 milhões de litros de vinhos por ano. A Vinícola Miolo, localizada no mesmo município, divulgou uma nota através de sua assessoria de imprensa informando que ainda é cedo para avaliar o impacto da nova legislação nas vendas de vinhos.

O gerente de marketing e enólogo da Garibaldi, Maikel Vignotti, enfatiza que a partir de agora as vendas da vinícola devem começar a se concentrar mais nos supermercados. Hoje a Garibaldi já comercializa 98% para este segmento, contra apenas 2% direcionada a restaurantes. O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antonio Longo, estima um acréscimo de 5% este ano nas vendas de vinho em supermercados justamente por causa da mudança de hábito do consumidor proporcionada pela lei. "A degustação de vinhos foi totalmente eliminada", comenta Longo. "As indústrias de bebidas alcoólicas, de uma forma geral, vão se concentrar na venda por atacado", acrescenta o dirigente.

Outra alternativa para superar a queda nas vendas é direcionar parte da produção para o mercado externo. Segundo Boscato, a estimativa para este ano é elevar entre 20% e 30% as vendas externas de vinhos finos, o que significa entre 50 e 60 mil litros a mais. "Para competir com vinhos de outros países como o australiano, é preciso ter um produto de excelente qualidade", declara o empresário. A vinícola iniciou os embarques de mil litros do produto há duas semanas para aquele país da Oceania e já se prepara para mandar mais remessas futuramente. Além da Austrália, a Boscato exporta para os Estados Unidos, Alemanha e República Checa.

O diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Paviani, ressalta que o setor está buscando alternativas, mas ainda não há nada concreto. Ele afirma que existe um exagero na aplicação da lei. "Não podemos enquadrar quem toma um cálice de vinho como bêbado, por isso vamos propor que o nível tolerado fique entre 5 e 6 decigramas de álcool por litro de sangue como ocorria anteriormente", argumenta Paviani.

A lei 11.705, que altera o Código de Trânsito Brasileiro, determina que acima de 2 decigramas no sangue o condutor paga uma multa de R$ 955,00 perde o direito de dirigir e o veículo é retido. A partir de 6 decigramas por litro, a punição será acrescida de prisão com pena de seis meses a três anos, mas o crime é afiançável (de R$ 300,00 a R$ 1,2 mil). Em uma lista de 82 países pesquisados pela International Center For Alcohol Policies, instituição com sede em Washington, nos Estados Unidos, a lei seca brasileira é mais rígida entre 63 nações, iguala-se a cinco e é mais tolerante que outras 13, onde o limite varia de zero a 1 decigrama.

Seminário debate produção na Metade Sul do Estado


O VI Seminário de Vitivinicultura da Metade Sul do Estado será lançado oficialmente hoje pela Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS). O evento será realizado nos dias 13 a 15 de agosto, no Clube Comercial de Bagé, com os objetivos de discutir os problemas conjunturais ligados à viticultura; divulgar as novas tecnologias do setor, e qualificar os técnicos e produtores, que atuam na área da viticultura.

O seminário se caracteriza pelo envolvimento de todo o setor nos debates sobre os avanços na área. A atividade da viticultura teve início na região, desde sua colonização, com algumas iniciativas isoladas em Uruguaiana, Santana do Livramento e Bagé. Hoje a atividade ocupa espaço expressivo em vários municípios da chamada Metade Sul do Estado, com uma área de mais de 1,7 mil hectares e produção de mais de 11 mil toneladas ao ano.

De acordo com a organizadora do evento e membro do Comitê de Viticultura da Metade Sul, Madalena Borba, a produção na região ainda precisa se desenvolver como cadeia. "Os empreendimentos vinícolas precisam estar ligados com a indústria, caso contrário os produtores correm o risco de não ter para quem vender a produção", comenta Madalena. Ela citou que exemplos como o de uma cooperativa do Chile, que conquistou o mercado externo com um selo social, podem ser uma das alternativas para a produção na região.

Os avanços tecnológicos, somados à crescente adesão de novos protagonistas na área da vitivinicultura, e o interesse permanente dos produtores e pesquisadores, têm garantido um público de 500 pessoas em média em cada ano no seminário. No lançamento, será apresentada a programação deste ano. O evento é uma promoção da Emater/RS-Ascar, do Comitê de Fruticultura da Metade Sul, da Embrapa Uva e Vinho, do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Associação Bageense de Fruticultores (Abfrut).





Veículo de Publicação : Jornal do Comércio (RS) – Editoria Economia
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