quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Proibição da venda de bebidas não reduz mortes

Correio da Bahia

Proibição da venda de bebidas não reduz mortes


Números reforçam a necessidade de uma maior fiscalização dos motoristas nas rodovias baianas



Alan Rodrigues

A Bahia é o estado com o maior número de autuações desde o início da vigência da Medida Provisória 415, que proíbe o comércio de bebidas às margens das rodovias federais. A MP começou a valer no último dia 1º e, desde então, 163 estabelecimentos foram multados, de um total de 890 fiscalizados. No mesmo período, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou uma pequena redução no número de acidentes, mas o número de mortes se manteve praticamente inalterado em relação ao mês anterior e quase dobrou se comparado ao mesmo período do ano passado.

Entre as justificativas, o excesso de velocidade, ultrapassagens indevidas, aumento da frota e a defasagem dos quadros da PRF. Os números registrados reforçam os argumentos de quem é contra a MP 415 e apontam para a necessidade de fiscalizar melhor os motoristas, em vez de apenas restringir o acesso às bebidas alcoólicas.

Para o inspetor da PRF, Virgílio Tourinho, chefe de policiamento e fiscalização das estradas na Bahia, a elevação do número de vítimas fatais se deve à imprudência dos motoristas. “Os acidentes violentos são fruto de três fatores principais: ultrapassagens indevidas, excesso de velocidade e consumo de álcool ao volante”, enumera. Reduzir o consumo de álcool nas estradas, portanto, resolve apenas parte do problema.

Segundo Tourinho, os 595 agentes, que trabalham em sistema de revezamento nas rodovias federais que cortam a Bahia, não são suficientes para cobrir os 6.581km de malha viária sob a jurisdição da PRF no estado. Distribuídos em dez delegacias, eles contam com 25 aparelhos para medição de teor alcoólico dos motoristas (etilômetros), além de três radares fotográficos e 23 radares portáteis.

“Seria preciso o dobro do efetivo e pelo menos mais 20 radares fotográficos para realizar uma fiscalização mais intensa sobre os motoristas”, sentencia. O inspetor revela que os números obtidos no Carnaval – quando houve redução de 34% do número de acidentes em relação a 2007 e 25% menos mortes – só foi possível graças ao cancelamento de folgas e férias dos agentes e o reforço vindo de outros estados.

Virgílio Tourinho defende a presença mais ostensiva da PRF nas estradas, principalmente nos pontos mais críticos, que começaram a ser mapeados, inicialmente na BR-324, através do projeto guardião. Trata-se de um levantamento dos pontos de maior incidência de acidentes graves, onde se planeja reforçar a fiscalização, inibindo os excessos. O inspetor também atenta para a defasagem do efetivo em relação ao crescimento da frota de veículos. Em 2006, a Bahia tinha 1.597.022 veículos em circulação e, em 2007, o número subiu para 1.762.061.

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MAIS RIGOR

Apesar do aumento do número de mortes, a Bahia foi o estado com maior número de autuações desde o início da vigência da MP 415. Isso acontece, na opinião do inspetor Tourinho, graças ao rigor dos agentes na Bahia. “Nós orientamos nosso pessoal a vistoriar os estabelecimentos, verificando freezers e armários e não só fazer a avaliação visual da entrada do local”. O número de autuações no estado corresponde a 18% dos estabelecimentos fiscalizados. Proporcionalmente, a Bahia só perde para o Paraná, onde 32% dos locais visitados pela PRF foram notificados.

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COMPARATIVO DE ACIDENTES NA BAHIA

2007 (1º a 18/02)

312 acidentes
190 feridos
22 mortes

2008 (1º a 18/01)

350 acidentes
246 feridos
40 mortes

2008 (1º a 18/02)

301 acidentes
179 feridos
39 mortes

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QUEM MAIS FISCALIZOU

(dados nacionais)

Rio Grande do Sul

1.768 estabelecimentos

Bahia

890 estabelecimentos

Rio de Janeiro

686 estabelecimentos

QUEM MAIS AUTUOU

Bahia

163 autuações

Paraná

128 autuações

Minas Gerais

108 autuações

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FALA-POVO

Você acha que a proibição da venda de bebidas nas estradas pode reduzir o número de mortes em acidentes?

“ACHO que não é por causa da proibição que vai diminuir. Os motoristas não param aqui. Até agora, a Polícia Rodoviária nem veio fiscalizar”.

Dalva Justiniano
47 anos, dona de bar à margem da BR-324

“NÃO tem nada a ver. Se esse ou aquele bar deixar de vender, quem gosta de beber compra a bebida e leva no carro. Quem quiser beber, vai beber”.

Ademar Santos
62 anos, motorista aposentado

“QUEM dirige tem que ter responsabilidade com a vida dele. Não é a pessoa que vive de vender bebida que tem de fechar o bar. Como é que essa gente vai viver?”

Pedro Pereira
73 anos, motorista aposentado

“AS MORTES não têm nada a ver com a fiscalização dos bares. O que se precisa é olhar o desemprego que vai ter por causa dessa medida. A punição tem que ser para o motorista”.

Arivaldo Souza
64 anos, motorista aposentado

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